segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Rótulos

Postado por Unknown

Alguém aí me explica: quem resolveu catalogar o mundo? Rotular pessoas? Fazer um manual de vida coletivo que mora no imaginário de cada um? A gente nasce com idéias pré-concebidas e nem se dá conta que mal temos escolhas: existe mulher para casar, mulher para se divertir, mulher para se desejar e a mulher que você tem em casa. Existe a moda do dia-a-dia, underwear, sportwear, streetwear, passeio-completo, esporte-fino, a Daslu, e a lista das dez mais mal-vestidas. Existe o cara gostoso demais, o bom-partido, o bonzinho demais, o galinha demais, o mentiroso, o sogro que sua mãe pediu a Deus, seu vizinho charmoso e o cara que é o amor da sua vida. Existe o body-splash para o dia, o seu perfume favorito para a noite, o corte de cabelo da estação, as mechas avelã-caramelo-chocolate-doce-de-leite que você vai usar sem nem sentir o gosto. (Nem nenhuma emoção diferente). Existe o point do momento, a praia mais badalada, a celebridade mais comentada, o carro-do-ano, o que está in, o que está out, o que é top, o que virou lata e o eterno vai-e-volta da saia balonê que ninguém entende (nem nunca vai entender). (O luxo de hoje é o lixo da próxima estação, anote na caderneta!) Existe a tatuada-drogada, a patricinha-metida, o bad-boy, o playboy, o bombado, a divina-modelete, o intelectual, a draq-queen, o músico, o viado, a funkeira, a caminhoneira, a marombeira, o senhor dos anéis, a poeta, o bicho-grilo, o Ronaldinho Gaúcho e nossas mães (acima de todas as coisas desse mundo). Existe a gordinha, o neguinho, a branquela, a baixinha, o mala-sem alça, o malandro, a oferecida, a santinha,a maravilhosa, o pivete, a Dasluzete, a ex-mulher-do-jogador,e por aí vai...
O mundo nos oferece um milhão de opções, mas você tem que achar sua categoria agora, pegar seu crachá e colar sua LOGO para uma melhor identificação quando surgir a crucial pergunta: quem é aquela pessoa ali? É a dura realidade. (Profiles em branco não serão permitidos). Se você descobriu que sua vida não se reduz a meia dúzia de palavras e que não consegue se resumir a uma ou duas categorias catalogadas no manual imaginário da Terra, um abraço... Você não serve para viver no planeta-produto. A saída é pegar sua mochilinha do shopping Oiapoque (mais original que muita gente por aí) e tirar seu time de campo. Você não tem rótulo, não tem identidade, você é um peixe-fora-dágua, benvindo! Se quiser se adaptar, esqueça sua complexidade, suas ambigüidades, pare de pensar e siga as instruções. Você não pode ser loura, cheirosa, fazer o que quiser da vida, ter um leve ar de princesa, lutar jiu-jitsu como um homem, amar maquiagem, passar no terceiro lugar no vestibular, ser tatuada e escrever poesia. Não, não pode. Categorias misturadas, ambiguidades inusitadas, carteira apreendida, por favor! Devolva os olhos azuis, o diploma e o namorado, comece a se drogar, pegue sua carterinha "trash", faça mais dez piercings, brigue na rua, só use preto e comece a viver como num clipe do Evanescence (sem a beleza misteriosa da Amy Lee, claro). Você não pode ser moreno, forte, lindo, ganhar rios de dinheiro, ser um poço de charme e ainda gostar de homens. Você é assim? Visto negado. Você vai ser obrigado a gostar de mulheres, ter mau-gosto pra se vestir, ficar mal-informado ou vai acabar com a pele opaca, a conta lisa e nenhum lugar para se divertir. Exagero meu? Um pouco. Sou intensa, exagerada, atrevida, curiosa, doce, ácida, livre, solta, tenho milhões de reticências, gosto de pessoas não-acabadas e não quero ser rotulada. Me recuso terminantemente a concordar com a existência de um mundo limitado, colocar uma LOGO na testa, parar de escrever, parar de sonhar, ter uma vida morna e parar de falar o que eu penso. E o que penso? Que podemos ser mais. Que temos pré-conceitos demais. Adoramos julgar o outro, rotular o vizinho, sem olhar para dentro de nós mesmos. Não nos sentimos capazes de sermos o que somos. De sermos tudo o que podemos (e queremos). De sentir felicidade plena todos os dias (apesar de sabermos que é difícil, mas não impossível). A sociedade corta nossas asas, nossa criatividade, nossos desejos reais e nos deixa com medo. Medo de não ser aceito. De não ser amado. De não ser compreendido. Medo de ser feliz todo dia e não saber lidar com nosso próprio poder. Medo de não ser feliz nunca e morrer aos poucos. Quer saber? A sociedade não é culpada. (Ela só possui regras e convenções). Nós somos os únicos responsáveis pelo que iremos fazer com as nossas próprias vidas. E aí? Peixes fora dágua sempre acham mares diferentes (e ás vezes turbulentos) para se viver. (E mergulhar fundo). E produtos vivem expostos em prateleiras, têm preço e não correm risco. (O prazo de validade já vem registrado). É uma escolha que depende de cada um. A minha eu já fiz.

Texto by: Fernanda Mello

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